Sobre a maneira de tocar o Shofar
De acordo com a Mishná, um judeu deve escutar no Rosh Hashanah nove toques de shofar. A ordem dos toques é: Tekiah, Teruah, Tekiah, repetidas três vezes (veja “Sons do Shofar”).
No século IV, três toques foram adicionados – Shevarim (que soa como um gemido).
Maimônides disse: Não temos dúvidas que Teruah era mencionada na Torá, mas os anos se passaram e o exílio se prolongou, e nós não sabemos mais como era: se é como o gemido de uma mulher se lamentando ou como o queixume constante de uma pessoa quando seu coração se preocupa por algo importante – ou se os dois. Portanto fazemos todos estes: o gemido que chamamos de Teruah e os queixumes, um após o outro, que chamamos dos Três Shevarim.
De acordo com a Mishná, o número de toques de shofar que se deve escutar no Rosh Hashanah são trinta, e atualmente esta é a ordem dos toques do shofar:
Tekiah, Shevarim, Teruah, Tekiah (TSTT) – três vezes
Tekiah, Shevarim, Tekiah (TST) – três vezes
Tekiah, Teruah, Tekiah (TRT) – três vezes
Com o passar dos anos, a maior parte das comunidades adicionou mais trinta toques no meio da reza – para Reinado (Malkhut), para Lembrança (Zikaron) e para Shofars – , totalizando 90; então adicionamos 10 toques e chega-se a 100.
Por que tocar o shofar?
Rabbi Yitzhak dizia: Por que tocamos o shofar no Rosh Hashanah?
“Por que tocamos o shofar no Rosh Hashanah”? O Todo-Poderoso disse toquem o Shofar! (Tratado Rosh Hashanah)
De acordo com Maimônides, apesar do toque do Shofar ser obrigatório no Rosh Hashanah de acordo com a Torá, há uma sugestão aqui:
“Acorde você que está em profundo sono, e o povo sonolento pare de hibernar, examinem seus feitos, arrependam-se e lembrem-se de seu Criador. Aqueles que esquecem da verdade na vaidade do tempo e erram em seu sono através do absurdo e do vazio, que não fazem nada de bom nem salvam ninguém, olhem para suas almas e corrijam seus caminhos e feitos, e cada um de vocês deverá esquecer seus caminhos e pensamentos sórdidos” (Hilchot Teshuvah).
Maimônides fornece algumas razões para o mandamento de tocar o shofar, entre elas:
- Tocar o shofar marca a ocasião da entronização do Senhor como rei do universo, pois era o costume dos reis que eram entronizados marcar a ocasião com o toque de trombetas. E realmente, tocar o shofar profetizando o Reino de Deus em nosso mundo é mencionado em muitas passagens das preces de Rosh Hashanah, como por exemplo: “Pois o Senhor Todo-Poderoso, grande Rei de todo o universo… O Senhor se levantou ao som do Teruah, Deus ao som do shofar”.
- Tocar o Shofar tem a intenção de despertar os direitos que vêm dos patriarcas, para nos relembrar do Sacrifício de Isaac e o modo como Abraão resistiu seu teste, como é dito: “Disse o Senhor, toquem para mim a trombeta de um carneiro, para que Eu me lembre como Isaac, filho de Abraão, foi amarrado e assim Me lembrarei deles.”
- Tocar o shofar nos lembra da Revelação do Sinai, quando o povo afirmou, de forma unânime, ao pé da montanha: “Faremos e escutaremos!”, como dizemos na prece do “Musaf” em Rosh Hashanah: “Tu te revelaste na nuvem … em sons e raios Tu foste revelado ante eles, e ao som do shofar Tu apareceste a eles”.
O rabino Saadia Gaon (século X) menciona dez tópicos gerais envolvendo o toque do Shofar:
- Como um modo de aceitar o Reino Celestial – exatamente como as pessoas tocam trombetas e saúdam os reis, anunciando o começo de seus reinados.
- Como um aviso – assim fazem os reis, advertindo a todos primeiramente sobre seus decretos, para que, no futuro, transgressores não façam nenhuma reclamação.
- Os sons do shofar nos relembram da Revelação do Sinai.
- Sons do Shofar nos lembram das palavras do verdadeiro profeta, que são comparáveis ao toque do Shofar (e ele tocou o Shofar e avisou o povo).
- Para nos lembrar da Destruição do Templo e dos toques de guerra dos inimigos (como está escrito em Jeremias 4).
- Para nos lembrar do Sacrifício de Isaac, que entregou sua vida aos Céus, sua devoção quando foi amarrado ao altar (e em seu lugar um carneiro foi sacrificado, e do chifre do carneiro fazemos o Shofar).
- Está na natureza do Shofar mexer com nosso sangue, para que tenhamos medo e ansiedade e nos quebrantarmos perante nosso Criador.
- Para nos lembrar do grande Dia do Julgamento e temê-lo (Sofonias 1).
- Os sons do shofar nos lembram da Reunião dos Exilados (Isaías 24).
- Os sons do shofar nos lembram da Ressurreição dos Mortos (Isaías 18).
O rabino Saadia Gaon mencionou todos os eventos cósmicos, da Criação à Ressurreição dos mortos.
O Shofar de acordo com a Cabala
A literatura cabalística tem uma tremenda influência nos usos do Shofar e nas crenças atribuídas a este. * Todos os temas centrais, mencionados no Livro do Zohar e na literatura cabalística, estão ligados a teorias sobre a Criação do mundo e nas relações entre forças divinas e globais.
Um dos temas repetidos em várias formas é a expiação através dos toques do Shofar.
Estes são capazes de mudar o julgamento nos Céus de culpado para absolvido, de quebrar os promotores e até mesmo silenciá-los no Dia do Julgamento (Rosh Hashanah). Quando o Senhor está no Trono do Julgamento e os promotores – os gemidos e lamentos – fazem suas acusações, o Povo de Israel muda a intenção de Deus de culpa para absolvição através de preces e toques do Shofar. **
A ideia de Zichron Teruah (lembrança do toque do shofar), que aparece nas preces, significa a memória de eventos passados.. . O Povo de Israel, ao tocar os Shofars no Rosh Hashanah, lembra o toque do Shofar que os salvou durante a conquista da Terra de Israel. O som da Teruah, subindo e descendo como uma corrente, simboliza amarrar as forças do mal e a libertação da escravidão. O Povo de Israel, como escravos, deverão ser finalmente libertados de seus grilhões pelo toque do Shofar na redenção final.
Passado e futuro estão conectados no Shofar da Redenção. Este tema é repetido muitas vezes na literatura cabalística. O Shofar da Redenção do Fim dos Dias simboliza o Shofar que tirou o Povo de Israel para fora do Egito. O Shofar da Revelação do Sinai é o Grande Shofar, a ser tocado no final dos tempos, como está escrito no Livro de Isaías (27,13).
A lista de razões para tocar o Shofar ainda não está completa…
Eruditos e rabinos, comentaristas e filósofos continuam explicando seu significado – até os nossos dias.
* Para continuar a leitura: A Shiloah, Topics of music in the book of Zohar, texts and keys – Series of monographies – Yovel, Magnes Press, Jerusalem, 1977 ** Para continuar a leitura: The Musical Heritage of Jewish Communities, unit 8 – no capítulo: “The Shofar in the Book of Zohar and in Kabalistic Literature”, página 18, The Open University.